sábado, 13 de maio de 2017

Distorção ou Overdrive? O que são? Qual a diferença?

Edilberto Costa Neto, Gabriel Kulevicz da Silva


    Primeiramente, gostaríamos de agradecer ao pessoal que acessou, curtiu e compartilhou o blog, é com grande satisfação que escrevemos sobre esse tema para vocês! Nesta matéria, nós buscamos um pouco do histórico da distorção, seu funcionamento e quais as diferenças.

Histórico 


Na metade da década de 40, os amplificadores não apresentavam uma boa eficiência pois alguns componentes utilizados eram de baixa qualidade. A tecnologia da época era um tanto limitada e um componente destacou-se como referência: A Válvula.
As válvulas eram comumente utilizadas na telecomunicação como amplificadoras de sinal (rádio, telefone e outros). Devido a sua amplificação, passou a ser utilizada nos instrumentos musicais. Curioso né? Mas, por que falar disso?
Bom, foi nesta época que os guitarristas de blues, ao experimentar o sistema de captação Humbucker (até então só haviam Singlecoils que proporcionavam um baixo volume em relação ao Humbucker), começaram a perceber uma leve alteração no timbre quando o volume do amplificador (valvulado) era aumentado. A característica “quente” e um pouco distorcida que provocava uma certa agitação passou a ser percebida (um exemplo disso pode ser encontrado em: https://youtu.be/V7kbiclx8rs?t=401). A partir dessa descoberta, começaram a introduzir essa característica em sua performance. Assim foi o início do que chamamos de Rock!
Alguns anos depois, o uso de amplificadores em alto volume e potência, começou a prejudicar os cones dos alto-falantes. Por causa de um rasgo no cone, outro tipo de distorção foi descoberto. Esse som era mais “sujo” e diferenciava muito do que já era conhecido. Surgiram assim algumas nomenclaturas. O Overdrive ficou associado às válvulas, pela leve distorção em volumes medianos e pela característica “quente” e com “definição”, isto é, mantinha a característica do instrumento e dava uma pitada de distorção. Já o que conhecemos como Distortion, ficou associado ao som rasgado do cone rompido, como na música “You Really Got Me” do The Kinks (veja dois exemplos de Distortion aqui: https://www.youtube.com/watch?v=-2GmzyeeXnQ https://www.youtube.com/watch?v=gTKG68SmI3g).


Mas, peraí, os dois não distorcem o sinal da guitarra? Sim, porém há muita divergência quando esse assunto é tratado.

O Overdrive e a Distorção 


“Overdrive” pode ser interpretado como uma ultrapassagem de um limite. Para os músicos, o Overdrive está diretamente associado a uma distorção valvulada. Sob o ponto de vista da engenharia, ao realizar um Overdrive de um componente (Válvula, transistor, ampops e outros) estamos excedendo o seu limite e, por consequência, ocorre uma distorção do sinal.  A definição de “Distorção” aplicada a sinais elétricos está relacionada a deformações desses, sejam elas no sentido de uma informação, amplitude, frequência, tempo e etc.  
Não entendeu nada? Vamos tentar explicar melhor. Imagine uma caixa preta que apresenta uma entrada e uma saída. Na entrada, colocamos um pacote com “Círculos”. Vamos supor que a caixa só tenha capacidade de aumentar os “Círculos” em até 3 vezes o seu tamanho. O que aconteceria se colocássemos a máquina para aumentar em 3, 4 ou 5 vezes o seu tamanho original de entrada? 10 segundinhos para você imaginar a situação!



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Então, a caixa preta possui um limite de aumento da figura. Os “Círculos” que possuírem aumento menor que 3, passariam tranquilamente, sem nenhum problema. Agora, quando escolhemos aumentar os “Círculos” mais do que 3 vezes, nós estamos excedendo o limite de processamento da caixa. A caixa preta vai tentar reproduzir o “Círculo”, mas devido ao fato de ela não ser feita para realizar essa amplificação, o que nós obtemos na saída não é um Círculo completo e sim um “Círculo” delimitado pelo aumento máximo da caixa preta. Consegue imaginar a figura deformada? A imagem a seguir ilustra o procedimento para facilitar a compreensão desse fenômeno!
          

Agora vamos trazer isso para um caso prático! Imagine um guitarrista tocando e ele está usando um pedal valvulado. O sistema é o seguinte:
  •          O sinal elétrico da guitarra entra no amplificador;
  •          O pedal valvulado processa o sinal;
  •          O som é reproduzido no alto-falante de um amplificador.
Primeiro caso (Ganho mínimo no pedal): O sinal da guitarra entra no pedal e este realiza sua tarefa. Após amplificar, o sinal segue para o alto-falante. O resultado é apenas de um som amplificado.
Segundo caso (Ganho médio no pedal): O sinal da guitarra entra no pedal e este realiza sua tarefa. Após amplificar, o pedal entrega o sinal para o alto-falante. Agora já podemos perceber uma leve alteração quando o alto-falante reproduz o som.
Terceiro caso (Ganho máximo no pedal): O sinal da guitarra entra no pedal e este realiza sua tarefa. Após amplificar, o sinal segue para o alto-falante. O som reproduzido está completamente deformado.
O sistema é muito similar ao da caixa preta, porém com algumas alterações. No caso do pedal, ele aceita qualquer sinal elétrico da guitarra. A limitação do pedal está no componente “Válvula”, que apresenta uma faixa de operação. Quando excedemos um pouco a faixa de operação (Segundo caso) o sistema deforma um pouco o sinal. O que vale ressaltar é que cada componente eletrônico tem um comportamento quando o seu limite é excedido. No caso das válvulas isso representa uma compressão do sinal (esse fator é o responsável pela “definição”) a partir do ponto de saturação (limite), e a deformação do sinal evidencia mais os harmônicos pares de baixa ordem (nosso próximo artigo será sobre harmônicos!). Por esse motivo, o som das válvulas é mais “quente”. No terceiro caso fica bem evidente a distorção.
Mas daí vem aquela pergunta: Posso utilizar “Transistores” ao invés de “Válvulas”? A resposta é SIM! As válvulas são componentes que gastam muita energia e também apresentam um preço mais alto em relação aos outros componentes eletrônicos (aqueles que são usados em amplificação e para distorção). Além disso, as válvulas ficaram um bom tempo sem serem produzidas. Por causa disso, os transistores foram utilizados para tentar substituir a válvula, porém, como mencionamos acima, cada componente tem uma característica diferente quando sofre uma saturação.
Você já pode perceber que no decorrer do texto foi mostrado que Overdrive e Distorção estão intimamente ligados. O ato de realizar um Overdrive provoca uma Distorção e nem sempre essa distorção vai apresentar as características de uma válvula, pois cada componente tem a sua resposta. Durante o tempo, os músicos atribuíram a distorção de válvulas ao termo Overdrive, e grande parte dos pedais de Overdrive disponíveis no mercado tentam imitar a saturação de uma válvula utilizando diferentes componentes (transistores, diodos, ampop, entre outros). Existem outros tipos de distorção também descobertos no decorrer do tempo e que serão discutidos ainda aqui na Oficina do Áudio!


Comentem, compartilhem e divirtam- se conosco!

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